domingo, 27 de julho de 2014

Conto: Ouvindo Livros

Hoje eu acordei mais cedo. Me levantei e olhei o rack bem na frente da minha cama, viajando nos livros perfilados e no silêncio desta manhã eu comecei a ouvir o som dos livros. Imaginei a voz de Alan Kardec entoando um salmo, flutuei naquele som quase divinal e por que não divinal. Por um instante eu vi Alan Kardec entoando aquela canção, meio canto gregoriano...Simplesmente lindo!
A Edith Piaf, que voz daquele livro, que música linda, que suavidade da melodia, acompanhada por uma orquestra celestial, a melhor sensação que um ser humano pode sentir, uma sensação de eternidade. Em seguida me deparei com o livro de Santo Agostinho e pensei numa frase em que Ele diz quem canta reza duas vezes e ligado nesta frase profunda ouvi o som daquele livro que me remetia a um tempo distante, mas ao mesmo tempo a um momento atual, que ao ouvir aquele som eu me sentia leve e com emoção aflorando do fundo do meu ser, chorei. Chorei mas um choro sem lágrimas, como um orgasmo de bem estar... Me senti leve e livre por alguns instantes, foi quando uma mistura de sons começou como uma sinfonia de várias vozes, de todos os livros, Charles Darwin,Élio Gaspari, Lou Marinoff, Luk Ferry, Kant, Isabel Allende, Tristan Hunt, Janine Burk, Osho, Marx, Nietzsche, Freud, Sócrates, Adorno, Pascal, Lock, Aristóteles, enfim , não dá pra citar todos senão o texto fica cansativo e não é esta a intenção. Todas estas vozes soavam como um grande coral hora afinadíssimo, hora desafinado, mas um som iluminado. Foi aí que ouvi uma voz vinda de um livro bem magrinho, um livro que seguindo a ordem por tamanho, fica no final da fila mas não diminui em nada em relação aos demais. Esta voz vinha suave, melodiosa, calma e meio nostálgica, era a voz de Vida Cigana da Júlia Carolina, que fazia um dueto muito bem entoado com os poemas da Suely Sette, poemas que já nascem com som, arranjo, melodia e tudo mais. Assim diante de tantos sons, de tantos sons metafísicos, filosóficos, espirituais, esotérico, calmos, agitados, psicodélicos, malucos, belezas eu encerro este texto ao som do Bread de David Gates, que embalou este texto desde o início. Mas vocês que são de vez em quando malucos, procurem ouvir o som de seus livros na estante por um instante, apaguem a luz do mundo e acenda a luz da percepção. levite, transmutem, busquem e encontrem algo que os tire da rotina. Viagem sem rumo, sem passaporte, sem destino e sem tempo de chegar ou de partir. Boa viagem, curta este som que eleva e que leva ao céu do conhecimento, ouça com atenção o som dos livros.
"Eu sou ligado em som de livros,em som de discos, em som de vozes de gente, eu sou ligado no som de sua voz, no som da vida e no som do silêncio".


Escrito por José Matos

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